quarta-feira, 29 de abril de 2009

noir et blanc

noir
et
blanc 

un retract, un morceau, un cadeau.




image au coeur de ellen nayara kotai costa

segunda-feira, 27 de abril de 2009

touché

voulez vous choucher avec moi, ce soir?


touché! corínthians faz quatro gols no clássico contra o santos na final do paulistão.
não fosse o toque e gol contra de felipe, o goleiro show dos últimos dois anos, teria deixado o peixe a ver navios e não teriam sequer um número natural no placar.

final, quatro gols do corínthians, zero do santos!!! placar 3X1.


a bola da vez foi ronaldo, o eterno gorducho que teima em fazer gols. e o troféu abacaxi vai para o rei da barriga de pelé, o senhor derrotado que há cerca de um ano desacreditou do fenômeno e de suas peripécias (pessoais e 'campais').

sábio pelé!




fotos: lance, terra e blogs


quinta-feira, 23 de abril de 2009

Educomuniquei

um dia esse foi meu trabalho. um dia educomuniquei. 
se pelas desventuras do tempo pensei não ter atentido ao chamado da educação, 
me restaram algumas provas de um amor dedicado corretamente.
amei. eduquei. educomuniquei.






vídeo desenvolvido pelo grupo anjos da vida na oficina de educomunicação do cesmar de
dourados, coordenados pela educadora ellen nayara kotai costa.



segunda-feira, 20 de abril de 2009

manipulação da massa

ingredientes:
-um grupo de pessoas, vários grupos de pessoas, enfim, muitas pessoas;
-veículo/meio de comunicação
-interesses financeiros - lucro
-profissionais e atitudes anti-éticas

modo de preparo:
reúna as pessoas em grupos por afinidade, mas de maneira que, no fim, vários grupos formem um só grupo com o maior número de pessoas. junte os interesses financeiros aos veículos de comunicação e acrescente os profissionais anti-éticos. misture tudo até que se produzam materiais que façam a massa se unir e se tornar uniforme e forte. espere crescer.
após algum tempo, coloque no forno e venda.

obs1 - fácil manipulação
obs2 - alto percentual de lucro
obs3 - dependência de consumo da massa


atenção, quanto mais bater, mais a massa cresce!
ASSISTA!





domingo, 19 de abril de 2009

índio, fazer barulho

hoje é dia de índio. hoje, tem programa de índio para fazer e ver na tevê. aparecem os pele-vermelhas com cocares e corpos pintados em dia de festa. 
saindo dos livros de literatura e do agendamento festivo e quase folclórico, do imaginário 'iracema' e 'ubirajara', do romântico josé de alencar, dos arcos e flechas, vale encarar o vídeo que segue. 'vista a tanga, pegue o urucum' e dispa-se de seus preconceitos, 'karaí'!
produzido pelo cineasta alejandro ferrari e por jovens indígenas das aldeias bororó e jaguapiru, de dourados-ms.





na cultura indígena, ao sair da infância a pessoa se casa e passa ser adulta, claro passando por diversos rituais. isso implica na não existência do período da adolescência na cultura.
estando as aldeias bororó e jaguapiru inseridas na área urbana da cidade de dourados, muitos são os indígenas que pouco falam as línguas guarari e terena. da mesma maneira, muitos são os indígenas que se espelham na sociedade dos não indígenas, justamente pela proximidade da reserva e da cidade, pela mistura e ilusão de 'igualdade', de possibilidade de vida, de dinheiro, pela interferência direta e incisiva dos karaí. porém, iludidos com estas possibilidades, são, em sua maioria 'explorados', e passaram a ficar à margem da sociedade 'branca',  'sul-mato-grossense' e douradense.
as crianças indígenas crescem, não se casam de imediato, e se identificam com os adolescentes não indígenas, passando a 'ser adolescentes indígenas' e gerando confrontos culturais, já que esta categoria, reitero, não existe na cultura referida. os jovens 'pele vermelha' passam então a não se encaixar em sua cultura mãe, assim como não são aceitos na sociedade dos não indígenas devido ao choque cultural e essencialmente ao reforçado preconceito.
porém, aos poucos as culturas se modificam e o jovem indígena 'conquista' alguns direitos. não sem esforços, não sem crimes velados cometidos a eles, não sem injustiças.
hoje, estes jovens estão na universidade e o preconceito cometido a eles ainda é um dos maiores obstáculos.


os jovens indígenas que produziram este vídeo fazem parte da 'ação dos jovens indígenas',  um grupo conhecido como 'aji', que se enquandra justamente na dita 'adolescência indígena' e que busca se fortalecer, conquistar seu lugar no mundo e o respeito perante a sociedade dos karaí e dos indígenas. vale se aprofundar no conhecimento desta situação.

indicação de leitura: 
dissertação de mestrado Comunicação Popular - Alternativa Desenvolvida por Jovens Indígenas das Aldeias do Jaguapiru e Bororó em Dourados /MS
http://www.metodista.br/poscom/cientifico/publicacoes/discentes/mes/mestrado-0012/

blog da ação dos jovens indígenas
http://ajindo.blogspot.com/

sábado, 18 de abril de 2009

19 de abril

pois se são índios, nativos, são os verdadeiros brasileiros,
aqueles que não desistem, aqueles que resistem, que sobrevivem,
são a nossa versão original, o genuíno.
se hoje são índios, são bugres, vermelhos, diferentes,
e vivem à margem do mundo, é por pena de nós.
 





me relaciona 19 de abril, o aniversário de morte do filho de uma tia. vejo, hoje, 19 de abril como morte e me sinto certa dessa impressão morando em dourados-ms. índio é sinônimo de pobreza de sujeira, de porquices, de feiura, de morte. indígena, já vi ser comparado a um cão. é pra morrer!!!
aqui vai meu respeito e admiração. índio, fazer barulho. 

sexta-feira, 17 de abril de 2009

bagarre de filles

e viva o altruísmo, a importância do outro, a generosidade.
elas não aprenderam a dividir com o 'barney'

ridículo! muito bom!

entre:
http://www.humour.com/videos.asp?num=13174





karamazovi, os kara!

dia 19 de fevereiro tirei o saquinho plástico que recobria o livro 'os irmãos karamazovi', do escritor russo, fiódor dostoiévski. entre mãos, depois de um ano guardado e ainda virgem, uma pequena bíblia de cerca 780 páginas (editora martin claret) de pequenos caracteres com o mínimo de espaçamento entre linhas.
não foi surpresa a densidade daquele tijolinho. em 2007 já havia lido 'crime e castigo', do mesmo autor, e as lembranças e aprendizados de cores pastéis pesadas e odores de penumbra, me incentivaram ao início da nova leitura.
respirei fundo.
fiódor pávlovich abre alas para os personagens de nomes complicados e almas idem e, no decorrer de uma leitura agradabilíssima, os quadros vão se pintando, as partituras vão se construindo e os karamazovi tendo vida e história. os agregados, amigos, estranhos e demais coadjuvantes que, ao menos por algum instante se fazem personagens principais, vão, junto da família masculina karamazovi, emprestando suas histórias para o leitor.
agradabilíssima sim, porém com peso, com densidade, com furor e estômago. a bílis vai tomando gosto de vida e cada ação tomada tem o peso do erro humano e a reflexão de uma espiritualidade superior. 
livro eterno como intenso, livro éter.
as letras, palavras, folhas não se acabam e, dois meses depois, ainda na página 400, a dor, o pecado, a sujeira e o caráter estampados no livro me envolvem num cansaço e familiaridade surpreendentes. ainda não cheguei no famoso parricídio e já me vale a pena.
assim que o livro morrer, o enterro.

aqui 'os irmãos karamazovi' em versão mais chique que a minha, em reais mais altos também, mas vale investir. http://www.americanas.com.br/AcomProd/1472/2618968


curiosa ilustração abaixo
notas de dostoiévski para o capítulo 5 da obra - fonte: wikipédia




quinta-feira, 16 de abril de 2009

bom dia!

contexto - redação do jornal

ambiente branco e quadrado. seis computadores, sendo três de frente aos outros três numa só fileira. seis pessoas sentadas, jornalistas. a dois passos de distância mais dois computadores, agora separados a outros dois passos. diagramador e editor.
quatro folhas de papel escritas em 'tahoma' todo o caminho de trabalho, as experiências.

a cada passo, duas ou três batidas de coração num ritmo digno de sapucaí. um sorriso, um 'oi', um 'boa tarde' e o par de olhos iam e vinham. um sorriso, um 'oi', quatro folhas A4, quatro mãos. quatro folhas A4, duas mãos.
a cada passo, uma ou duas batidas de coração num ritmo fim de balada. alguns sorrisos, passos, seis computadores. mãos vazias.
meu celular vai tocar?

.

a vida hoje me foi doída e pareceu que meu corpo viveu justo quando descansei da luz e do ar.
fechei os olhos do corpo e da alma, tranquei os pensamentos e espaereci enquanto não parecia viver. abri os olhos e, outra vez, a vida me doeu. as sobrancelhas se enrigeceram, o rosto se contraiu e o dia continuou, como se nada se tivesse passado. ponto.

grunidos do coração de alguma ellen nayara kotai costa

sexta-feira, 10 de abril de 2009

l´Aquila X l´acquila

l´Aquila X águia - nos olhos perspicazes, a proteção não coube às asas deste bicho. a terra se revoltou, tremeu, matou, morreu. os quase 300 aumentam a cada dia. a grande mãe da arte tem se rendido aos abalos. a renascença também tem fim.



aquilo que não ouvimos, aquilo que não lemos.



L’Aquila. Ho visto gente viva senza più niente. Ho visto gente che non era neanche più viva. Ho visto disperazione, rabbia, soprattutto un dolore infinito. Ho assistito ad atti eroici e a caos assoluto. Sono stato dentro, per l’ennesima volta, alla tragedia di quest’Italia bellissima ma fragilissima. Con la speranza, stavolta, che la partecipazione collettiva non si esaurisca in pochi giorni.


L´Aquila. Vi gente viva sem mais nada. Vi gente que nem estava mais viva. Vi desespero, raiva, sobretudo uma dor infinita. Assisti a atos heróicos e ao caos absoluto. Estive dentro, pela enésima vez, da tragédia desta Itália belíssima, mas fagilíssima. Com esperança que, desta vez, a participação coletiva não se acabe/canse em poucos dias.




valentina scrive: 

fa male guardare, e ancora più male fa sapere che non puoi fare altro che pregare, e sperare che ci siano persone ancora vive.

mettiamo le mani ai capelli, e versiamo lacrime, ci stringe il cuore, e ci chiediamo come possiamo aiutare, oltre al semplice messaggino col quale donare un euro, oltra a donare sangue all’ avis, cosa possaimo fare?



faz mal olhar e ainda mais mal saber que não se pode fazer nada além de rezar e esperar que existam pessoas ainda vivas.

colocamos as mãos na cabeça e derramamos lágrimas, o coração aperta e desejamos uma maneira de ajudar, além de uma simples mensagem ou de doar um euro, além de doar sangue ao vizinho, o que podemos fazer?



quarta-feira, 8 de abril de 2009

ora, pois!

...
ora, pois!


grunidos do coração de alguma ellen nayara kotai costa

terça-feira, 7 de abril de 2009

eu sou um perigo à sociedade

 "Uma mulher com o braço engessado faz parte da estratégia da quadrilha para entrar em bancos com armas". veja em:

Já eu sou mais perigosa. Levando um molho de chaves, moedas, um mp4, uma caneta, halls, um par de óculos de sol e alguns papéis na bolsa, não consegui entrar na agência do Itaú da rua Marcelino Pires, no dia de hoje, em Dourados-MS.
A porta travou umas oito vezes e a cada alerta, todos se voltavam em minha direção para ver o que acontecia. Situação vexatória!!!
O segurança, ainda que cordialmente, me pediu apenas licença para deixar os outros cidadãos entrarem e saírem do banco, e em nenhum momento se dirigiu a mim com a intenção de resolver esse problema - que concerne ao banco Itaú e não a mim.
Vai ver, ter o braço sadio faz com que a porta trave.
Sistemas desregulados e falhos. Quanta segurança!

segunda-feira, 6 de abril de 2009

ora, pois!

pois, queria eu, lembrar-me do teu beijo e do calor por ele provocado.
pois, queria eu, completar-me ao teu corpo.
pois, queria eu, encher-me da tua alma.
pois, com a completude do teu ser, o meu ainda mais se avoluma.
pois, 
ora, pois.

grunidos do coração de alguma ellen nayara kotai costa

domingo, 5 de abril de 2009

perigo II


foto:ellen nayara kotai costa

o ícone da demarcação, da pseudo-propriedade, da eterna guerra entre o vermelho e o branco, da proibição. ferrugem, ferragem, dor em tons de marrom. passou, apagou!

sexta-feira, 3 de abril de 2009

perigo

foto:ellen nayara kotai costa

em algum lugar simples e comum, fácil de achar nas redondezas e na cidade de dourados-ms.
farpas e ferpas de uma dia a 40°C. imagem a la suor e sangue.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

pela net

e se literatura é parte da diversão e aprendizado, em seguida vai um achado. autor - Gilvã Mendes

ah, muito texto? putz, leia, 20 minutinhos e verá que vale a pena.

 

nas dificuldades da vida, no furor dos sofrimentos e preconceitos, no lugar errado, da cor errada, de forma defeituosa, do jeito da inexistência. e assim, no meio do nada, resiste uma pérola. é na periferia e salvador que um grão de areia machuca uma ostra.


Jovem desvenda as ladeiras de Salvador sentado em uma cadeira


Será que um cadeirante e Jorge Amado vêem as ladeiras de Salvador do mesmo jeito? Gilvã Mendes escreve sobre isso no livro “Queria Brincar de Mudar Meu Destino”. Cadeirante e morador da capital baiana, o jovem rapaz conta sobre as dificuldades de estudar em uma escola pública, se locomover em uma cidade cheia de ladeiras e, principalmente, do desafio de escrever um livro tendo os dedos atrofiados.

Leia trechos do livro:

As ladeiras de Salvador

"As ladeiras e as ruas de Salvador sempre excitavam buscas de aventuras cavalheirescas e contemporâneas de Jorge Amado: jogar capoeira, tomar um bom trago de cachaça vagabunda, fumar pontas de charutos ordinários, uma boa briga de navalha, cair no samba com as neguinhas ou derrubá-las na areia d’alguma praia, coberto pelo manto prateado da mãe noite e ao som choroso da seresta do mar, que é o quebrar vagaroso das ondas nos arrecifes. As ladeiras e as ruas
daqui são como portais para as aventuras mais quiméricas dos vagabundos, malandros, putas, poetas e dos Capitães da Areia – foi assim que Jorge Amado me apresentou às ladeiras e ruas de minha cidade. Eu estava cabalmente fascinado por elas. Ah, queria mergulhar nelas! Não sabendo eu que mais tarde isso aconteceria...
Do começo ao fim do primário, eu não tinha cadeira de rodas. Fazia falta, porém nem tanto, pois eu quase nunca saía, estudava há pouco menos que cinco metros de distância da minha casa e ia para a escola no colo de meu tio ou de meu irmão. Eu já era enorme, as minhas pernas ficavam batendo nas deles, corríamos o risco de cair se eles tropeçassem nas minhas pernas secas. Eu sempre fazia questão
de ser o primeiro a chegar à sala de aula, para que ninguém me visse
sendo carregado. Morria de vergonha disso.

Quando passei para o ginásio, a escola era mais distante, mas eu já tinha uma cadeira de rodas e não tinha muitas dificuldades. Apenas subia uma pequena ladeira, e só havia uma curva até chegar lá. (...)"

*** 
O caminho que escolhi

" Nunca acreditei que o homem fosse produto do meio. Acredito, isso sim, que somos produto de nossos pensamentos, desejos e de nossa determinação. Gosto de citar os exemplos de Machado de Assis, Martin Luther King e Abraham Lincoln. Eles tinham tudo para dar errado, mas foram símbolos de persistência, coragem e fé. Mas se, para alguns, eles são personagens distantes, cito meu próprio exemplo.
Desde criança vi tudo conspirar contra mim. Pra começar, nasci negro, na periferia de Salvador. Fui o quinto filho de um casal com problemas financeiros e amorosos, que na maioria das vezes tentava resolvêlos de forma primitiva. Enfim, um casal que vivia em conflito. Eu me abalava mais do que os meus irmãos com as brigas entre meus pais. Também nasci na pior fase financeira da família (minha mãe diz que fui o filho que mais passou fome). Mas o último ingrediente, o que faria aumentar exponencialmente as dificuldades a vencer na vida, é a minha deficiência. Enquanto meus irmãos apanhavam para aprender as lições da escola, eu olhava os livros feito um cão que deseja um frango de padaria. Sonhava em ir para a escola, mas não conseguia ser aceito.Aprendi a ler e escrever em casa. Uma amiga de minha mãe emprestava gibis que eu ficava horas e horas lendo. Às vezes titubeava nas palavras, insistia, gaguejava, insistia e conseguia. O tempo passava, eu lia mais
e melhor, meu desejo de estudar aumentava. Quando minha mãe conseguiu uma vaga numa escola, que felicidade! Nos primeiros dias, os meninos me olharam torto. Teve um que, além de zombar de mim, me bateu. Chorei pela vergonha de não
poder reagir. Mas me enturmei e em poucos dias já brincava com todos. Foi nessa época que nasceu em mim a vontade de escrever. Meus amigos de infância criavam bandas musicais e desenhavam histórias em quadrinhos. Como eu não tinha movimentos no braço esquerdo, não podia tocar nenhum instrumento. Tampouco sabia desenhar. Passei então a compor as letras das músicas e a escrever os roteiros das histórias. Foi assim que, no fim da quarta série, uma peça teatral escrita por mim foi encenada na escola, e um poema meu declamado. (...)"

***

Mulher misteriosa
Amante dos poetas,
protetora dos profetas,
cama dos mendigos,
amiga dos amigos.
Companheira dos vagabundos
Mulher misteriosa, que nenhum
homem conhece a fundo.
Mulher que nos nina feito crianças,
trazendo as nossas mais escondidas lembranças.
Conselheira dos equivocados e pecadores,
mãe de paixões e amores.
Às vezes atormentadora,
às vezes consoladora…
Mas sempre tão santa, tão profana,
tão humana!
Deus podia dar-lhe o nome de:
Maria, Selma, Anna…
Mas deu-lhe outro nome doce:
Noite.

***

Se alguém

Se alguém me acusar apontando-me a mão,
de nunca atentar para a miséria dos meus irmãos,
de não atacar, contradizer, denunciar, amaldiçoar nos versos,
de nossa raça os exterminadores, os algozes perversos.
Se alguém me acusar de ser insensível
aos apelos, lágrimas, palavras tristes,
que a tudo isso os meus ouvidos resiste,
de ser indiferente ao sangue de meu irmão que na rua passa
regando a árvore maldita da desgraça.
Se alguém me acusar de ser alheio
ao ver retraído o rosto inocente da criança,
ao morder o podre fruto da maldita árvore,
cujos frutos são um presente de Satã – a vingança.
Se alguém me acusar de nunca ligar
para os gritos dolorosos da mãe sem nome,
que meus irmãos agem segundo a voz da fome,
que por dinheiro eles são seduzidos pela Dama da foice,
e que como outrora são tratados com açoite.

Se eu não falar da favela,
do riso bonito da menina, do brilho do olhar,
do primeiro eu te amo, coisas simples e belas,
quem fará sonhar as almas dos românticos,
quem embalará os amores com poéticos cânticos?
De que adianta falar, falar da violência
com tanta raiva, ódio e violência?... (é decadência!)
De que adianta filosofar acerca do amor,
e nunca ter sentido por ele no peito uma gostosa dor?
De que adianta discutir tentando achar
uma solução para os problemas,
se não entendem de amor um poema?

***

O começo da aventura

"Era uma vez um menino muito curioso: eu. Com seis anos, já perguntava à minha mãe como tinha nascido. Mas foi só depois de muita insistência, quando completei oito, que ela concordou em responder. Minha mãe jamais me fez fantasiar, sempre tinha na ponta da língua a verdade, que doía, amargava, mas servia de antídoto contra o sofrimento. Não me poupou de nenhum detalhe da madrugada de 2 de outubro de 1984. Naquela idade, eu já tinha visto coisas que poucos adultos (em
especial os nababos) poderiam imaginar. Então, enquanto minha mãe contava a história do meu nascimento, botei a cabecinha para funcionar e criei cenário, figurinos e diálogos. Foi assim...

No dia em que nasci, minha mãe, uma jovem de 24 anos, estava deitada no tapete com meus quatro irmãos. As paredes estavam esburacadas e o teto miserável, prestes a cair. O piso era de barro batido; a porta, remendada com um pedaço de tábua velha; a janela chegava a ser uma relíquia, de tão antiga. Uma mesa de quarta mão, um banco de madeira entupido de percevejos (que devoravam as pernas de quem se sentasse) e um fogão comido pela ferrugem completavam o quadro. Ela tentava dormir, mas tudo roubava-lhe o sono: o cheiro de
cachaça, urina e vômito de meu pai caído a seu lado, o odor fétido do tapete, a fome, a saudade da juventude. Levantou-se devagar para não despertar os filhos, abriu a porta, acendeu uma ponta de cigarro que tinha guardado para fumar de madrugada e mergulhou em seus pensamentos. Riu de si mesma ao recordar as travessuras de criança. Quando o avô disse que queria comprar um porquinho, ela sorriu inocente e perguntou: “Pra quê, se a gente já tem uma porquinha?”, referindose à própria mãe, que era gorda. Tomou uma surra por isso. Lembrouse
da adolescência, e seus olhos tornaram-se mais melancólicos e chorosos.

Ainda era adolescente quando conheceu um rapaz da cidade de Maragojipe. Apaixonaram-se. Foram meses de encantamentos, flores e palavras poéticas. O conto de fadas logo virou um conto rodriguesiano: eles transaram e ela engravidou aos 16 anos. O rapaz, Francisco (nome inventado), recebeu a notícia como uma criança que recebe um brinquedo. Pulou, riu, contou a todo mundo. Era seu primeiro filho. Não que minha mãe não tenha ficado feliz, mas temeu a reação da família. Pensou que levaria uma surra inesquecível e que seria expulsa de casa, mas não foi bem o que aconteceu: “O que vai dizer o povo? O que pensarão meus fregueses da quitanda? Que você é uma descarada, vagabunda. Você vai ter que se casar antes que essabarriga cresça!” – bradou meu bisavô, com a honra maculada. Ela resistiu. Era nova demais para casar, queria continuar os estudos e podia trabalhar para sustentar o bebê. O pai também ajudaria nas despesas. Acabou por convencê-lo. Mas ele jurou casá-la antes de morrer. O bebê nasceu – era uma menina. A cara da mãe! Ganhou o nome de Lívia. As lembranças de minha mãe foram interrompidas por umador aguda na barriga. Foi ao banheiro, voltou, deitou no tapete, gemeu, suou frio, não suportou mais:

– Francisco, acorda! Acorda!
– Hã... O que é?
– A minha bolsa estourou!
– Que porra! Me acordar só por que a sua bolsa quebrou.
– Droga! Eu tô parindo!
– Logo agora, cinco da manhã? Não dá pra esperar mais um
pouquinho, não?!

Meu pai levantou cambaleando, saiu à procura de um carro, voltou 15 minutos depois com um táxi. O taxista ajudou minha mãe, pois com a dor ela perdera todas as forças, e meu pai mal se aguentava em pé de bêbado.Foram para a maternidade. Meu pai não se conformava: “Nasceu mais um problema, mais uma conta pra pagar, mais umador de cabeça” (o problema, a conta para pagar, a dor de cabeça era eu. Mal sabia ele que fazia uma previsão certíssima). “Eu sou tão novo, já com cinco filhos. Mas a culpada é Teresinha, eu sou homem, ela é que tem que se cuidar”. (...)"

***
Queria voltar

Queria brincar de mudar meu destino,
sem vergonha, chorar.
Queria voltar a ser menino,
com nada me importar.
Queria voltar a ser menino, acreditar
em meias verdades,
acreditar na desconhecida felicidade.
Queria voltar a ser menino
para me fazer rei,
fazer meu mundo sem leis.
Mas minha cara está encabelando,
meus sentimentos, ignóbeis
estão se tornando.
É como uma doença que me consome.
Estou me tornando homem...

***
Minha vida de bebê

"Certa feita, vi na televisão um quarto de bebê que mais parecia uma casa. Detalhes bonitos, cores harmoniosas, brinquedos maravilhosos, um berço exagerado de grande... só o guarda-roupa do abençoado tomava quase metade da sala de minha casa. Eu devia ter uns oito anos.

– Bãinha, quando era bebê, eu tinha um quarto e um berço?
Ela respondeu-me com um tom melancólico:
– Você, meu filho, nem tinha onde dormir. Tive que completar o malcheiroso tapete com um pedaço de papelão forrado com lençol, e você se amontoou lá com seus irmãos. Naquela ocasião, ela ainda omitiu o tamanho do meu enxoval. Contando tudo, não dava 20 pobres peças."

***
A menina que passa

"Qualquer dia destes, vou me sentar
na porta de minha casa para esperar.
E mesmo com o passar do tempo estarei atento,
só para ver passar a menina que passa correndo.
Nunca vi essa menina quieta.
Dizem que ela sempre tem um sorriso sapeca,
que só vive brincando de pega-pega,
mas só brinca com os adultos.
Enquanto ela corre sorrindo meigamente,
vão os homens de rostos duros e alguns sorridentes,
maquinando nas sombrias mentes
uma maneira de tomar para si a menina contente...
Só as crianças não participam da brincadeira dela,
não a invejam, são semelhantes a ela.
Eu não participo dessa brincadeira,
não é por causa de minha cadeira.

Eu só quero da menina um facho da luz do seu sorriso,
para quando eu tiver morrido.
Num só momento, toda a minha vida vai ter apenas valido...
Há pessoas que levam a vida toda atrás da menina levada,
E atrás delas vão suas famílias, seus amigos, as suas coisas
amadas,
e morrem sem a menina, sem as suas famílias, sem nada...
Eu só quero ser igual às pessoas que, sem querer,
no caminho da menina passam,
e ela sem explicação lhes sorri, os abraça...
Eu só quero ser como essas pessoas: cair nas graças
dessa menina que nunca para, apenas passa...
Mesmo que anos e anos passem, nenhum dia
vou desistir de ver a menina desejada dos bons e perversos.
Quem sabe um dia eu lhe dedique uns versos,
e quando a menina passar, eu lhe recite a poesia.
Talvez ela sorria para mim, a menina que passa, a Alegria..."

***

A descoberta

"Eu já tinha entre sete e oito meses e, para um menino de minha idade, era muito molinho. Minha mãe já tinha percebido, mas sentia medo – e se ela me levasse ao médico e ele falasse alguma coisa ruim? Nessa época, ela trabalhava em casa, cacheando cabelos, uma espécie de salão de beleza improvisado. Enquanto ela atendia as clientes, eu brincava com minha tia.

– Teresinha, Gilvã não é muito molinho para a idade dele, não?
– Que nada, ele é normal.

Mas ela sabia que era verdade. Eu não brincava nem dava risada como as outras crianças. Dia após dia, esse pensamento perseguiu minha mãe, consumiu-lhe o sono, a fome, o resto de alegria que ainda possuía. Tinha medo que eu sofresse de alguma doença grave. Não havia outra saída senão marcar uma consulta com o
pediatra. Mas havia um problema: eu ainda não havia sido registrado. Como ela me levaria ao médico? A solução veio por meio de uma colega, que também tinha dado à luz há pouco tempo. Minha mãe convenceu-a a emprestar o registro de nascimento do filho. Diz ela que o único medo que tinha era de chamarem o nome do outro menino na recepção e ela não lembrar que se tratava de mim.Ao entrar no consultório, foi recebida pelo médico com cara de nojo.

– O que ele tem?
– Olha, doutor, ele é todo mole, não brinca, não dá risada...
– Tire a roupa dele e coloque-o ali.

Diz minha mãe que o doutor Fernando me examinou meio a distância, como se estivesse com medo de contrair uma doença contagiosa, e que terminou em menos de um minuto.
– Doutor, que remédio devo dar a ele?
– Comida.
– Não, doutor. Ele come direitinho! Eu garanto que...
– Esse menino está desnutrido! Está duvidando de mim? Eu fiquei sete anos em uma faculdade, minha senhora.
– E por acaso foi nessa faculdade que lhe ensinaram a ser cavalo
também?

Ora, desnutrido! É claro que minha mãe não se conformou. Esse povo acha que só porque tem formação pode humilhar os outros. Ele se achava o próprio Hipócrates. Minha mãe até hoje fala que nasci na pior época financeira da família, mas desnutrido não era. No quintal de nossa casa plantávamos legumes, feijão andu, era isso que eu comia. Dois dias depois, eu já havia sido registrado (como Gilvã e não Gilvan, como queria minha mãe), e ela levou-me a outro médico. Fomos atendidos pelo doutor Boaventura, um médico enorme e de aspecto brando. Ele me examinou minuciosamente: fez cócegas nos meus pés e bateu de leve com um martelinho nos meus joelhos, para testar os reflexos. Também pediu exames de fezes, urina, sangue e um eletroencefalograma, todos marcados para dali a uma semana. Foi uma semana intensa para minha mãe. Na data marcada, ela chegou cedo ao laboratório:

– Que dia fica pronto o resultado?
– Em 15 dias.
– Tudo isso?

Durante esse período, ela resolveu ocupar-se ao máximo para não pensar no assunto. À noite, tomava calmante para dormir. Às vezes, queria que os dias passassem rapidamente, para saber se eu tinha mesmo alguma doença; noutras, preferia que os dias se arrastassem, para não saber de nada. Até que chegou o dia de retornar ao médico, já com os resultados dos exames. Nessa consulta, a voz do dr. Boaventura estava mais amistosa:

– Eu sou médico há muitos anos, mas até hoje não aprendi a dar notícias desse tipo – e explicou que, quando nasci, houve falta de oxigênio em uma parte do cérebro, o que paralisou um lado do meu corpo. Eu não poderia andar, mas ele me encaminharia para um fisioterapeuta, o que ia me ajudar. Meu intelecto não tinha sido afetado. Minha mãe nem ao menos pegou de volta os papéis dos exames. Partiu em disparada para casa, chorando. Imaginem o que ela sentiu quando soube que seu filho amado não poderia correr. Eu precisava de cuidados especiais, e minha mãe estava sozinha. Meu pai era um bêbado inveterado, não parava em um emprego. Minha avó não dava apoio, minha bisavó também não. Era só ela, e cinco filhos.

– Chico, o nosso filho é doente, ele não vai andar!
Meu pai silenciou. No calor da emoção, pegou-me no colo:
– O nosso bebê lindo, a cara do pai, a gente não vamos jogar fora. A gente vai amar ele do mesmo jeito que a gente ama Lívia, Mery, Aline e Kleber – e acariciou minha cabecinha, fazendo essas papagaiadas de bêbado.

***

Loucura 

" Depois que recebeu o diagnóstico do médico, minha mãe deu pra andar pela casa feito um fantasma. Comigo nos braços, chorava um choro fino e incessante. Meus irmãos acordavam de madrugada, assustados.

– Papai, por que mãinha tá chorando?
– Vão dormir. A mãe de vocês num tá chorando, não!

A cena começou a se repetir também durante o dia. Era como se tiranos deuses gregos a tivessem castigado, fazendo-a chorar eternamente. Já nem conversava comigo, que, apesar de ainda bebê, era seu único confidente. Os parentes perceberam sua depressão, mas, como de costume, não quiseram intervir. Não comia direito há dias, e tanto ela como eu emagrecemos bastante. Mas não descuidou de meus irmãos. Quando eles reclamavam da fome, ela cuidadosamente forrava o chão, deitava-me, e rapidamente aprontava uma comida. Só se recusava a fazer qualquer coisa para meu pai. Um dia, ele chegou em casa bêbado e furioso (na
certa, alguém o fez de besta na rua e ele quis descarregar a raiva na mulher). Gritou que queria jantar, minha mãe se fez de surda. Meu pai partiu para cima dela.

– Bate! Bate, sacana! Quando eu mais preciso de você pra me ajudar a criar o nosso filho, você sai, chega bêbado pedindo comida e ainda quer me bater! Vem! Bate!
– Eu vou até dormir, pra não fazer uma arte com você.

De outra vez, foi a visita de Maura, uma amiga de infância, que a tirou do sério:

– Teresinha, eu vim trazer um presente para o seu bebê. Não vim antes porque estava trabalhando e chegava tarde...
– E quem disse que eu quero você aqui na minha casa? Saia. Saia agora! Você só veio aqui pra ver o meu filho doente e contar a todo mundo: “Oh, coitadinho do filho de Teresinha, ele é doentinho”. Saia logo. Saia!

Nem é preciso dizer que Maura saiu cabisbaixa. Sempre foram amigas, brincavam juntas, iam escondidas para a praia, foram companheiras nos primeiros tragos de cigarro e primeiros porres. Algo estranho estava acontecendo. Quando a família descobriu o motivo da depressão de minha mãe, começou a me tratar com um carinho exagerado, uns modos demasiados delicados. A emenda foi pior do que o soneto: ela logo percebeu que tanta afeição era pena de mim, o bebê aleijadinho.
Isso durou até a noite em que meu pai bateu à porta uma, duas, três, quatro vezes. Dona Elvira, avó de minha mãe, atendeu:

– Cadê a outra? Aposto que tá na casa dos outros!
– Não. Teresinha saiu e mandou lhe entregar este bilhete:

“Francisco,
Fugi com o nosso filho pra criar ele longe desse povo preconceituoso. Eu parti, mas deixo aí cinco partes do meu coração: uma para Lívia, outra para Mery, para Aline, para Kleber, e outra para você. Apesar de nossas brigas, eu gosto de você.
Teresinha” (...)"


publicado em - holofote27/03/09

http://www1.folha.uol.com.br/folha/dimenstein/noticias/index.htm

quarta-feira, 1 de abril de 2009

GABO joga a toalha depois das memórias de suas putas tristes

gabriel garcía márquez, o queridinho nobel de literatura de 1982, fecha a conta e passa a régua. a causa desta infelicidade? além das 82 primaveras do escritor, um câncer linfático que faz com que o colombiano deixe de registrar seu mundo imaginário.
 



jornalista e escritor, fez de macondo o mundo das mais diversas possibilidades e banalidades, tornando o improvável, comum, por meio de um emaranhado de histórias e personagens familiares e homônimos no célebre e discutido livro, cem anos de solidão (1967). vale acompanhar-se de uma folha e canetas coloridas ao ler o livro a fim de desenhar a árvore ginecológica / pausa - [eu me permiti brincar.rs.] - volta / uma árvore genealógica para melhor entendê-lo. vale despender tempo e 'saco'. no fim, quem lê, gosta, ou não entende e finge que gosta.
as putas tristes em memória, ou memórias de minhas putas tristes (2004), como intitulado seu último livro, no qual eu adorava brincar com o título, são, diríamos, mais comuns e terrenas. ele brinca com seu passado e aventuras, provocando sentidos escondidos, perfumes velados, e o despudor presente no leitor. no romance, dedica um carinho insuportável por uma adolescente virgem.
ao ler, as sensações de nojo se confrontam às de vontades e respeito. as de raiva e incompletude, às de ternura e amor sincero de um personagem com o nonagésimo aniversário recém completo. 
gabo vale para entendimento e viagem de vida. imaginativo e simplista. se tantos anos de solidão se dão entre a infinidade de personagens do livro, as putas em suas atitudes se caracterizam menos do que o peso que os seus títulos carregam.
pena que parou. mas pelo menos a minha lista de leitura do autor não será mais infinita [brincadeira!]. porém, garcía márquez, ainda dá pra desistir.

primeiro de abril

nem tava procurando, mas achei.
e todo ano é a mesma coisa, uma tiradinha aqui, ali. 
olha a tirinha.
:S





 méritos de drpepper



improvável

o tempo ocioso, por vezes, me é um presente.
e entre o tic-tac incessante dos intermináveis dias a procura de coisa alguma, algumas coisas eu encontro. 



os tchucos gatitos da vez são da cia. barbixas de humor, que têm obtido sucesso com o, assim dizer, espetáculo, intitulado improvável, caracterizado pelo jogo constante de imitações improváveis.

sorteador- rafinha (cqc)
convidado do dia- marco luque (cqc)

a sacada da galera é deixar que/fazer com que o público participe sugerindo personagens, locais, palavras, entre outros. os desafios são constantes e ao mesmo tempo o jogo não deixa de ser uma brincadeira. 
um imagem/ação adaptado para os palcos paulistas que tem ganhado o gosto do público. e o meu! quem ganha o jogo? isso vai depender do seu senso de humor.