sábado, 11 de dezembro de 2010

solidão

cena 1: sofás pretos de dois lugares cada um, um em frente ao outro. entre ambos um tapete azul marinho quase do mesmo comprimento. no limite do tapete uma 'mesinha de centro' preta encostada na parede branca. as duas janelas de vidro iluminam a sala que tem quase todas as lâmpadas queimadas, exceto duas. no canto esquerdo, entre um sofá e a mesinha, uma 'escrivaninha' com a tevê velha, uma câmera fotográfica, uma latinha de carlsberg vestida de brasil e cheia de moedas recusadas, um chapéu vicking, um óculos de sol dior de 3ovos e um porta retrato dos amigos. na parte de baixo mais algumas tranqueiras inúteis. do lado oposto à mesinha e uns dois passos pra fora do tapete, uma mesa com pernas de metal trançadas e tampa de vidro redondo. cadeiras desarrumadas e brancas e algumas roupas e pastas sobre elas. sobre o vidro, desde hidratante e guia de compras até guarda-chuvas e tampa de iogurte.

cena 2: sobre o sofá alguém de pijamas novos, comprados nesta semana. blusa de frio cinza escrito 'love' de mangas arregaçadas e calças xadrez cinza, rosa claro e cáqui. celulares, tesoura, bowl ainda sujo de um miojo na manteiga e ervas recém comido, carregador do notebook e algumas roupas. o limite de cada um desses objetos se confunde ao início de outros. no ar algum som vindo de um karaokê, gritos vindos de pessoas que passam pelas ruas, carros [em sua maioria táxis], e de dedos digitando. de tempos em tempos uma música abafada e desconhecida do fone acoplado ao notebook em frente ao meu.

o mundo pára! acontece!

é assim! o inverno chegou, os amigos se foram, a família está longe! o emprego não chega, as aulas não são, as baladas não estão, o dinheiro não tenho. a tentativa de ser o que era foi frustada e me descanso do descanso em casa. eis a solidão!
ela, que desmorona, afunda pelo colchão e abafa sob o endredon. ensurdece e enlouquece, porém, também enobrece.
tentando fugir ou gritar dias difíceis alguns loucos [ou amigos.rs] sempre socorrem. entres letras e frases ouvi dizer que a solidão é necessária, pode ser bela e boa, e que só nos conhecemos quando por ela passamos, entendemos, superamos e incorporamos algumas de suas nuances. talvez seja pura verdade, talvez seja impossibilidade, talvez algo que a literatura admira e por isso é dito.
de fato quando estamos com a presença da solidão o mundo silencia apesar de continuar a girar. o que é de fora, como tudo o que foi descrito nas duas cenas no início deste post, é importante, embora não faça a menor diferença. a voz pode falar, gritar, chorar ou sorrir que tudo é em vão. até o sorriso pode existir, os cabelos pentear, mas quando está dentro da gente, nada disso é de verdade. talvez por isso a necessidade de encarar, curtir e aprender com ela.
válida enquanto sabida e enfrentada, difícil tarefa para quem tem medos. agora é a hora! o corpo vai e vem onde tem os seus deveres, o coração palpita como sempre ou como nunca, a cabeça cansa no descanso. a vida é linda, os dias são comuns apesar das lições de mundo a cada instante. dublin também é isso!

[pra quem acha que estou triste, leia direito;
pra quem acha que estou feliz, conhece-me!;
para os verdadeiros amigos, o tempo é dono dos sentimentos, mas a distância é dona do tempo].

meus ais daqui, de um dia quente de inverno rigoroso. o orgulho de si mesmo, tendo conhecimento de causa e consequência é o melhor dos prêmios!

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